O procedimento do coito programado, ou indução de ovulação, é um dos métodos de reprodução assistida mais simples e antigos do mundo. É uma técnica consagrada e pouco invasiva, que foi criada nos anos 1960 e chegou ao Brasil na década de 1970. Consiste na estimulação da produção de óvulos pela mulher (via medicamentos hormonais), programando a ovulação e, consequentemente, a relação sexual (coito) nesse período, o que aumenta as chances de gravidez.
O tratamento é relativamente simples e ideal para casos leves de infertilidade. São três etapas: estimulação ovariana, indução da ovulação e relação sexual programada. Detalharemos cada uma delas a seguir.
Quais as chances de sucesso do Coito Programado?
As chances de sucesso na primeira tentativa podem chegar a 20%. Esse índice diminuiu a depender da idade, já que o envelhecimento impacta na qualidade dos óvulos. Especialistas recomendam que a mulher se submeta a até três ciclos consecutivos do coito programado. Caso a gravidez não ocorra, deve-se optar por outro método de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro (FIV) ou a Inseminação Artificial (IA).
O sucesso da técnica está estritamente ligado à adoção de hábitos saudáveis da candidata à mamãe. A alimentação deve ser controlada em relação ao excesso de gorduras, ela tem que fazer exercícios físicos regularmente, não beber e nem fumar. Mulheres com doenças crônicas como diabetes e hipertensão devem ter o acompanhamento de um médico especialista. Todas as vacinas têm que estar em dia.
Quem pode optar pelo Coito Programado?
A técnica é indicada para casais que não conseguem engravidar por problemas na ovulação, que é o processo em que o óvulo imaturo segue do ovário para a tuba uterina, local onde pode ser fecundando pelo espermatozoide. No entanto, é preciso checar, por exames, se o sêmen e as tubas uterinas estão em condições normais.
Essa checagem, na mulher, é feita através da avaliação do histórico do ciclo menstrual (número de dias da menstruação e intervalo entre sangramentos), exames hormonais, histerossalpingografia (raio-x) e ultrassonografia transvaginal. Estes dois últimos, para identificar possíveis anomalias nas trompas e cavidade uterina.
Os homens são submetidos ao espermograma, também conhecido como análise do sêmen, contagem espermática ou citologia seminal. Trata-se de um exame laboratorial complementar na avaliação da fertilidade masculina. O espermograma verifica as condições físicas e composição do sêmen, avalia a função produtora do testículo, a condição da próstata e detecta problemas de esterilidade.
Avaliação masculina: Espermograma
O espermograma é feito a partir de uma amostra de sêmen coletada através da masturbação. O homem deve estar há cinco dias sem ejacular para realizar a coleta. É importante estar com as mãos e o pênis higienizado, ejacular dentro do frasco e não usar lubrificantes, o que pode alterar o resultado da análise. Não é preciso estar em jejum.
Não há contraindicações para o espermograma. Ele pode ser feito por qualquer homem em idade reprodutiva, é não invasivo, indolor e não traz qualquer tipo de complicações à saúde.
O procedimento do coito programado é recomendado também para mulheres que sofrem com a síndrome do ovário policístico (SOP). Trata-se de um desequilíbrio hormonal, cujas causas não são totalmente conhecidas. Provoca alteração da ovulação e do ciclo menstrual, podendo afetar a fertilidade. É o distúrbio hormonal mais comum em mulheres na idade fértil, acometendo entre 7% e 20% delas.
Também podem aderir ao tratamento casais com baixa frequência sexual ou horários incompatíveis, o que acaba ocasionando relações sexuais fora do período fértil da mulher. O procedimento do coito programado também é indicado para casais com infertilidade sem causa aparente (ISCA).
Qual o limite de idade para o tratamento?
O tratamento não é indicado para mulheres com mais de 35 anos. Isso porque a qualidade dos óvulos diminuiu consideravelmente após essa idade. A técnica mais adequada a partir daí é a FIV.
É importante reforçar que, antes do procedimento de coito programado, o casal precisa passar por uma rigorosa investigação clínica para detectar ou descartar problemas de infertilidade, como exames de espermograma, ultrassonografia, reserva ovariana e histerossalpingografia (HSG), que checa as condições do útero e das tubas uterinas.
Coito Programado: o procedimento
1- Estimulação Ovariana
Folículos são estruturas que estão dentro dos ovários. É nelas que os óvulos se desenvolvem. Folículos são, portanto, uma espécie de berço dos óvulos. O objetivo do primeiro passo do procedimento do coito programado, ou seja, a estimulação ovariana, é justamente aumentar a produção de folículos e, consequentemente, de óvulos.
Para isso, são receitados medicamentos hormonais a partir do início do ciclo menstrual. Eles podem ser administrados por via oral, como o citrato de clomifeno, ou por injeções subcutâneas, a exemplo das gonadotrofinas. A dosagem varia de acordo com fatores como idade, peso, altura e número de folículos.
Esses remédios fomentam os ovários a produzirem folículos em quantidades maiores que o usual. Em um ciclo normal, a mulher produz apenas um folículo ou, por vezes, nenhum. Com a estimulação ovariana, esse número pode subir para até três, ampliando, portanto, as chances de fecundação.
Quatro dias depois a aplicação ou ingestão do primeiro medicamento, o desenvolvimento dos folículos é acompanhado por ultrassonografias e exames com dosagens hormonais, dia sim, dia não. Quando eles atingem o tamanho ideal (18 mm), passa-se para a outra etapa do procedimento do coito programado: a indução da ovulação.
2- Indução da Ovulação
A ovulação acontece quando o folículo dominante se rompe e libera o óvulo. Livre, ele começa sua trajetória até o útero, via tuba uterina, local onde está pronto para ser fecundado pelo espermatozoide.
Para que os folículos se rompam e liberem os óvulos, na indução da ovulação, hormônios conhecidos como hCG (hormônio da gonadotrofina coriônica humana) são aplicados, via injeção subcutânea. Cerca de 36 a 40 horas depois, os folículos liberam os óvulos.
3 – Tentativa de Gravidez
É nesse intervalo de tempo, onde a mulher está mais fértil, que o casal deve ter a relação sexual programada para consumar a gravidez.
Esse período pode ser programado de acordo com a rotina do casal, uma vez que o espermatozoide permanece vivo por até três dias no aparelho reprodutor da mulher.
Após 14 dias, um exame deve ser feito para confirmar ou não a gravidez. Se o resultado for negativo, o tratamento pode ser retomado no próximo ciclo menstrual. Lembrando que especialistas recomendam que o limite de tentativas no coito programado seja de três ciclos consecutivos do tratamento.
Quanto tempo dura o procedimento do Coito Programado?
Do início da ingestão ou aplicação dos medicamentos até a relação sexual, o procedimento do coito programado dura aproximadamente 15 dias.
O processo deve ser iniciado no segundo ou terceiro dia do ciclo menstrual, quando a mulher ainda está menstruada, portanto. É quando se realiza o ultrassom transvaginal, exame que diagnostica se o ovário ainda tem algum cisto remanescente do ciclo menstrual anterior. A checagem também serve para detectar se dentro do útero existem pólipos, miomas ou tecido endometrial em excesso, o que pode impactar no sucesso do tratamento. Estando tudo certo, começa a administração dos medicamentos hormonais já citados.
Uso dos medicamentos: tempo e frequência
Os remédios orais são usados por cinco dias seguidos. As injeções, de 8 a 12 dias, também consecutivos. Vai depender do ciclo menstrual da paciente. A injeção subcutânea pode ser aplicada na barriga ou na coxa, pela própria futura mamãe ou pelo parceiro. O procedimento é bastante simples e indolor.
Efeitos colaterais da medicação para o procedimento do Coito Programado
Desconforto abdominal, cólicas leves, inchaço, irritabilidade, dor nas mamas e de cabeça são reações comuns aos medicamentos hormonais usados no coito programado. Não há, porém, risco de desenvolvimento de câncer no ovário porque a medicação é administrada por pouco tempo.
Riscos do Coito Programado
A estimulação ovariana pode gerar como principais complicações a gestação múltipla (gemelar, trigemelar, etc.) ou o hiperestímulo ovariano, ou seja, uma resposta exagerada do ovário ao tratamento.
Para prevenir essas situações, a estimulação ovariana é regulada a fim de que cresçam poucos folículos (três, no máximo). Por isso, são usadas doses de medicação mais baixas do que na Fertilização In Vitro (FIV), por exemplo.
Se o hiperestímulo ovariano for detectado ou acontecer o crescimento e muitos folículos, a orientação é a interrupção das relações sexuais e o cancelamento do ciclo do coito programado, ou o encaminhamento para outro método de reprodução assistida. Dessa forma, reduz-se o risco de gestação múltipla ou agravamento do hiperestímulo.
De acordo com a literatura médica, no entanto, a incidência de hiperestímulo ovariano (SHEO) moderada ocorre em aproximadamente 3 a 6% das pacientes apenas. Já a forma grave da SHEO não chega a 1% dos diagnósticos.
O risco da gestação gemelar é de aproximadamente 10%, já que mais de um folículo é estimulado. A gravidez múltipla traz mais riscos para mãe e fetos, porque aumentam as chances de parto prematuro e complicações como diabetes, anemia e pré-eclâmpsia.
Contraindicações ao tratamento do Coito Programado
As contraindicações do procedimento do coito programado são as mesmas de uma gravidez natural. Não devem engravidar: mulheres com doenças cardíacas ou renais, com distúrbios genéticos e doenças infecciosas, que podem ser passadas para os filhos.
Não podem tomar remédios para indução da ovulação: pacientes com câncer no ovário, útero ou mama, doenças crônicas no fígado e tumores do hipotálamo ou da glândula pituitária.
Importância do acompanhamento médico especializado
As medicações para a indução à ovulação são vendidas em farmácias sem receita médica, mas é importante alertar que, em nenhuma hipótese deve-se iniciar o processo por conta própria, sem o acompanhamento de um médico. Isso por causa das graves consequências que a automedicação pode trazer para a saúde da mulher e do bebê.
As mediações em dosagens erradas, sobretudo as de baixa qualidade, podem causar incômodos físicos e até gestações múltiplas de quádruplos ou quíntuplos.
A indução à ovulação não é indicada para qualquer pessoa. Casais com histórico pessoal ou familiar de distúrbios genéticos podem ter filhos com malformações. Muitos desses casos só são descobertos com uma biópsia embrionária.
Também é necessário checar as causas da infertilidade, como trompas obstruídas ou poucos espermatozoides móveis, por exemplo.
Além disso há os fatores de risco para mulher já citados nesse texto, como doenças no fígado, tumores no hipotálamo, câncer de mama, ovário e útero. Mulheres com esses problemas precisam de um acompanhamento profissional e cuidadoso para não sofrerem sérias complicações.
Se você encontra dificuldades para engravidar, não negligencie a sua própria saúde e segurança. A sua e a de seu filho. Procure uma clínica especializada em reprodução humana. Não se submeta a qualquer tipo de tratamento sem a supervisão de um médico.